A poucos quilômetros do centro de Brasília, a Região Administrativa de Água Quente começa a ganhar cara de cidade. Ruas movimentadas, novos comércios se instalando, escolas saindo do papel e, sobretudo, uma sensação crescente de pertencimento entre os moradores.
À frente desse processo está a administradora regional Lúcia Gomes da Silva, moradora antiga da região e uma das vozes mais ativas na defesa do desenvolvimento local.
“Para mim é uma realização maravilhosa ver a cidade crescer e poder contribuir pra isso”, resume Lúcia, que assumiu a administração com o desafio de dar estrutura e visibilidade a uma área até pouco tempo esquecida por governos anteriores a Ibaneis Rocha.
Sobre a região
Localizada às margens da DF-280 e vizinha de Santo Antônio do Descoberto (GO), Água Quente começou a se formar na década de 1990, a partir da expansão de núcleos rurais. Com cerca de 30 mil habitantes e área de 578 hectares, a região abriga a Área de Regularização de Interesse Social (ARIS) Água Quente, com 208 hectares.
Segundo a Seduh, fazem parte da RA os parcelamentos Dom Francisco, São Francisco, Dom Pedro, Guarapari, Galiléia, Nova Betânia I e II, Salomão Elias e Buritis, todos em processo de regularização. Embora já existam redes de água, a região ainda não possui drenagem pluvial implantada.
Criada pela Lei nº 7.191, de 21 de dezembro de 2022, Água Quente tornou-se a 35ª Região Administrativa do DF, comemorando seu aniversário em 21 de dezembro.

Nos últimos meses, a gestão dela tem concentrado esforços em obras e serviços básicos. A promessa mais aguardada é a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), já em licitação, que deve se tornar o grande presente de Natal para a comunidade. Além da UPA, estão em andamento projetos de duas novas escolas, uma creche, um restaurante comunitário e um terminal de ônibus , todos na mesma área, ao lado do centro administrativo.
“Quando cheguei, Água Quente não tinha sequer um ponto de apoio para as linhas de ônibus. Hoje, já temos um local fixo e mais opções de transporte. O terminal é essencial para nossa mobilidade”, explicou.

A melhoria no transporte público foi uma das primeiras conquistas. Antes, muitos moradores dependiam das linhas de Santo Antônio do Descoberto, com tarifas mais caras. Agora, com a ampliação das rotas e a criação de um ponto de apoio local, cerca de 6 mil pessoas utilizam diariamente o transporte partindo da própria região, segundo a administradora.
Na área da saúde, Água Quente conta hoje com duas Unidades Básicas de Saúde (UBS 8 e 11), além de uma farmácia comunitária que passou a distribuir também medicamentos controlados , algo que antes exigia deslocamento até outras regiões administrativas. A cidade também ganhou sala de vacinação após emenda do deputado Jorge Vianna, ampliando o atendimento local.
“Hoje temos dentista, vacinas e farmácia funcionando. Ainda falta muito, mas o atendimento melhorou. Nosso maior sonho é ver a UPA pronta”, diz Lúcia.
Na educação, o avanço foi a instalação de uma nova escola de ensino fundamental, o que reduziu o deslocamento de crianças pequenas para o Recanto das Emas, uma das maiores queixas das famílias. “Agora os alunos menores estudam aqui. Só o ensino médio ainda precisa se deslocar”, explica.

Um dos desafios mais complexos continua sendo a regularização fundiária. Por se tratar de uma área originada de antigas fazendas, há pendências de matrícula e heranças que dificultam o processo. A Terracap conduz os trâmites junto aos herdeiros para avançar com a legalização.Mesmo assim, o cenário é de otimismo.
Grandes e médios empresários começam a apostar na região. O Supermercado Vivendas deve inaugurar ainda em dezembro, com promessa de priorizar a contratação de moradores locais. Também há negociações com redes como SuperAdega, além de empreendedores interessados em abrir postos de combustível e outros comércios.
“Isso é muito importante. Gera emprego e renda pra quem mora aqui, especialmente para as mães que querem trabalhar perto de casa”, destaca a administradora.
Na segurança pública, a cidade passou de uma única viatura com quatro policiais para duas viaturas e oito agentes fixos, sob comando do 27º Batalhão da PM. Lúcia também participa ativamente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) local, em parceria com bombeiros e lideranças comunitárias.
Já a limpeza urbana ainda enfrenta desafios. Mesmo com coleta três vezes por semana, o descarte irregular de lixo segue sendo um problema. “É um trabalho de formiguinha. Precisamos de mais consciência. Quando o lixo é jogado na rua, entope bueiro, causa alagamento e atrai bichos”, alerta.
Além do comércio, a cidade vem se destacando pelo artesanato e pequenos empreendimentos locais. Um grupo de cerca de 30 mulheres criou o Instituto Criando Arte, iniciativa que nasceu com o incentivo da própria administração. Elas participam de feiras regionais e já expuseram no Palácio do Buriti e na Câmara Legislativa.
“Antes, elas vendiam os produtos na beira da pista, sem segurança. Hoje, estão organizadas, fazem cursos e vivem do próprio trabalho. Isso me dá muito orgulho”, conta Lúcia.
Na zona rural, produtores e granjeiros também se articulam em associações, com apoio da administração principalmente na manutenção das estradas vicinais, essenciais para o escoamento da produção.
Entre as metas que ainda não saíram do papel, Lúcia destaca duas prioridades: asfalto e rede de esgoto. “Esse é o meu maior sonho. Eu morei aqui quando não tinha nem água nem luz. Sei o que é viver sem asfalto e depender de fossa. É o que mais me tira o sono”, confessa.
Com o olhar de quem conhece cada rua e cada morador, a administradora aposta que o futuro de Água Quente será de crescimento e pertencimento.
“As pessoas estão começando a acreditar na cidade. Isso é o mais importante”, disse, com um sorriso de quem fala menos como gestora e mais como moradora.



                                    
