Desde sua criação, em fevereiro de 2025, o programa Vai de Graça, promovido pelo Governo do Distrito Federal (GDF), tem provocado impactos significativos na rotina da população brasiliense e no dinamismo da economia local. A gratuidade no transporte público aos domingos e feriados tem favorecido não apenas o lazer dos moradores, mas também impulsionado o comércio e contribuído para o aumento da arrecadação tributária.

De acordo com levantamento do Instituto Fecomércio-DF, 96% dos lojistas notaram crescimento no fluxo de clientes nos dias de gratuidade, o que se refletiu diretamente nas vendas. Entre os comerciantes ouvidos, 51,2% relataram aumento de até 10% no faturamento, enquanto 27,2% apontaram incremento entre 10% e 20%. Um percentual menor (0,5%) registrou crescimento superior a 30%.

A pesquisa mostra ainda que 20% dos estabelecimentos passaram a adotar promoções regulares aos domingos e feriados, aproveitando o maior volume de consumidores, enquanto 42% optaram por ações promocionais pontuais. Do ponto de vista do consumidor, 61,6% afirmaram que a gratuidade os incentiva a sair para atividades de lazer e compras.

A mudança de comportamento é evidente. Antes da implantação do programa, 56% dos entrevistados saíam de casa apenas um domingo por mês. Atualmente, 45,7% circulam em dois domingos por mês, e 15,1% aproveitam todos os domingos e feriados, o que demonstra um novo padrão de mobilidade urbana e de ocupação dos espaços públicos.

Os efeitos positivos também são percebidos nas estatísticas fiscais. Um estudo da Secretaria de Economia do DF (Seec-DF), com base nas Notas Fiscais ao Consumidor Eletrônicas (NFC-e) emitidas entre março de 2024 e julho de 2025, aponta que, após a implementação do programa, houve:

• Crescimento de 5,4% na quantidade média de notas emitidas por empresa
• Aumento de 8,6% no valor médio dos documentos fiscais
• Alta de 5,8% na arrecadação do ICMS varejista

Os dados reforçam a tese de que a mobilidade gratuita aos finais de semana não apenas amplia o acesso a bens culturais e atividades de lazer, mas também fortalece a atividade econômica e a arrecadação estadual.

A política de gratuidade também tem repercussão nos indicadores de inflação. Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou 0,26% no Distrito Federal, com destaque para a queda de 0,52% no grupo Transportes. O principal fator de contenção foi a redução de 17,20% nas tarifas de ônibus urbano.

Em abril, o cenário foi semelhante: mesmo com altas em outros segmentos, a queda de 3,36% nas passagens contribuiu para frear a inflação local. Para o presidente da Fecomércio-DF, Aparecido Dantas, a retração está diretamente relacionada à política de transporte gratuito adotada pelo GDF.

De fato, o impacto é expressivo. Segundo a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob-DF), a média de passageiros aos domingos saltou de 270 mil para 460 mil, um aumento de 70%. Desde o início do programa, já foram realizadas mais de 20,4 milhões de viagens gratuitas, considerando domingos, feriados e datas com gratuidade estendida.

Durante o Carnaval, em março, com nove dias de gratuidade, foram registrados quase 5 milhões de acessos, o maior volume desde o início da iniciativa. Em média, o programa contabiliza cerca de 2 milhões de acessos por mês, podendo ultrapassar essa marca em datas com grandes eventos populares, como em agosto, quando uma celebração religiosa elevou o número de viagens para mais de 3 milhões.

As datas comemorativas têm evidenciado o alcance da iniciativa. O maior pico de movimento foi registrado na quinta-feira da Semana Santa (17/4), com 1,25 milhão de viagens gratuitas. Outros dias de destaque foram a segunda-feira de Carnaval (3/3), com 770 mil acessos, e a véspera do Dia da Independência (6/9), com 748 mil deslocamentos.

O destino do valor economizado com a gratuidade também foi mapeado:

• 54,4% pretendem gastar com alimentação
• 27,2% planejam poupar
• 9,6% desejam investir em bens físicos
• 8,8% em experiências culturais ou de lazer

Para acessar o benefício, os passageiros podem utilizar os cartões Mobilidade, Vale-Transporte, PCD, Idoso ou Passe Livre Estudantil. Quem não possui nenhum dos meios citados pode liberar a catraca com cartões de crédito ou débito, sem qualquer custo adicional.

Perfil do usuário

O levantamento revelou que 53,4% dos usuários são homens, com predominância nas faixas etárias de 30 a 44 anos (40,8%) e 18 a 29 anos (39,8%). As regiões administrativas com maior participação foram Samambaia (16,3%), Taguatinga (11,6%) e Águas Claras (10,9%). Quanto ao modal de transporte utilizado, 50% preferem o ônibus, 23% optam pelo metrô, e 27% alternam entre ambos.

Com efeitos que se estendem da mobilidade urbana à economia formal, o Vai de Graça se consolida como uma política pública de alto impacto no Distrito Federal, promovendo inclusão, incentivando o consumo consciente e transformando a relação da população com a cidade.