Na última quarta-feira (24), o deputado distrital Chico Vigilante (PT) decidiu usar a tribuna da Câmara Legislativa do DF não para defender o povo que o elegeu, mas para atacar um veículo de comunicação.
O alvo foi o Radar DF Notícias, acusado de publicar fake news por trazer à tona um tema incômodo: o impacto político do governo Lula sobre o aumento das passagens de ônibus decretado pela ANTT.
Com um discurso inflamado , desses que parecem mais desabafo de militante do que fala de parlamentar , Chico Vigilante tentou convencer que a Agência Nacional de Transportes Terrestres não tem nada a ver com o governo federal.
Uma tese curiosa, para dizer o mínimo. Afinal, a ANTT é uma autarquia federal, criada por lei, sustentada por dinheiro público e presidida por um indicado direto de Lula. Difícil imaginar uma independência tão celestial, como se fosse uma entidade orbitando fora do planeta.
Na ânsia de proteger seu líder político, o deputado constrói um enredo tortuoso, tentando descolar o Planalto de uma decisão que sufoca trabalhadores do Entorno. Nelson Rodrigues já dizia: “Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única capaz de imbecilizar o homem.” Talvez esteja aí a chave para entender tamanha contradição.
Mais do que uma defesa apaixonada do presidente, o que se viu foi um ataque gratuito à liberdade de imprensa. Ao mirar contra um portal de notícias, o parlamentar presta um desserviço à democracia. Porque, convenhamos, censurar ou desqualificar jornalistas nunca foi um bom caminho , especialmente para quem gosta de posar de defensor dos trabalhadores.
Não é novidade que o governo federal tem dificuldades em dialogar com governos locais ,o Distrito Federal e Goiás que o digam. O governador Ibaneis Rocha (MDB) e Ronaldo Caiado (União Brasil) não são exatamente alinhados ao Planalto. O resultado é um ambiente de tensão permanente, no qual medidas administrativas acabam resvalando diretamente na população.
Nesse cenário, a postura do deputado soa como um desserviço. Ao perseguir um veículo de comunicação, Chico Vigilante não apenas ignora o debate essencial , o impacto do aumento das passagens no orçamento dos trabalhadores.Como também desrespeita a liberdade de imprensa, um dos pilares do Estado democrático.
Seria mais produtivo se parlamentares utilizassem a tribuna para defender a população que diz representar, em vez de atacar quem cumpre o papel de informar. A crítica jornalística pode incomodar, mas silenciá-la ou deslegitimá-la é flertar com a censura.
O Radar DF Notícias, alvo do ataque, cumpre justamente a função de revelar bastidores, fiscalizar governos e dar voz a quem pouco é ouvido. Atacar esse trabalho é tentar calar a imprensa e, indiretamente, a própria sociedade.