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InícioPonto de VistaA Volta de Arruda e a Falência da Memória Política

A Volta de Arruda e a Falência da Memória Política

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Por mais que o tempo passe, certas feridas não cicatrizam. Outras, quando parecem fechadas, são brutalmente reabertas. A possível volta de José Roberto Arruda à política brasiliense 15 anos após seu colapso ético no escândalo da Caixa de Pandora  é uma dessas feridas.

Na tribuna da Câmara Federal , o deputado federal Alberto Fraga (PL-DF) não hesitou em anunciar o nome do ex-governador como possível candidato do PL ao Palácio do Buriti nas eleições de 2026. A fala é, por si só, um tapa na cara da memória coletiva do Distrito Federal.

Arruda, que foi o primeiro governador preso no exercício do mandato no Brasil, tornou-se símbolo de um dos maiores escândalos de corrupção da história política do DF. Em 2009, a operação Caixa de Pandora revelou um esquema de propinas a parlamentares distritais, captado em vídeo, com cenas grotescas de dinheiro sendo enfiado em bolsas, meias e paletós.

Cassado em 2010 e tornado inelegível pela Lei da Ficha Limpa, Arruda foi condenado por improbidade administrativa. Por anos, seu nome foi associado a Caixa de Pandora , o exemplo claro do porquê a legislação que impede fichas-sujas de disputar eleições é tão essencial para a saúde democrática do país.

Agora, diante da possível mudança nessa mesma Lei da Ficha Limpa, aprovada no Congresso e pendente apenas da sanção do presidente  Lula, Arruda vislumbra um caminho de volta. O que parecia ser um ponto de inflexão na ética política brasiliense  pode estar prestes a ser mais uma curva do retrocesso.

A proposta que altera a Ficha Limpa não é técnica, é política  e oportunista. Reduz prazos de inelegibilidade, reinterpreta condenações e, sobretudo, abre a porta para que figuras notoriamente envolvidas em corrupção retomem o protagonismo eleitoral com aval institucional.

O PL, partido que se apresenta como guardião da moralidade pública, dá guarida a Arruda como se fosse um novato injustiçado. Em vez de se opor com firmeza à volta de um político com esse passado, o partido o acolhe e o promove como potencialnome ao governo do DF. A pergunta que se impõe é: em que momento a memória deixou de ser critério no julgamento político?

Mas o alerta não é apenas institucional. É também, e talvez principalmente, popular. Ainda que a lei recue, ainda que a ficha suja seja tecnicamente lavada, a decisão final continua nas mãos do eleitor. Nenhuma alteração legal pode apagar o histórico de um político.

É necessário lembrar: Arruda não caiu por fofoca, nem foi vítima de perseguição. Foi gravado, denunciado e condenado com provas materiais robustas. Sua inelegibilidade foi consequência de atos concretos. Retorná-lo à cadeira do Buriti não é apenas reescrever a história  é ignorá-la deliberadamente.

A democracia exige memória. E exige responsabilidade de partidos, instituições e cidadãos. A possível candidatura de Arruda é um teste para todos esses atores. A pergunta que ficará pairando sobre Brasília será: a caixa de Pandora será aberta novamente  e, desta vez, com nosso voto?

 

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