Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência pela terceira vez, um dos pilares do discurso do governo era a ampliação da representatividade feminina. A composição inicial da Esplanada dos Ministérios refletia esse compromisso 11 ministras no primeiro escalão.
Porém, pouco mais de um ano depois, a realidade deu uma guinada na direção contrária. Com as recentes mudanças ministeriais, o número de mulheres no governo diminuiu, levantando questionamentos sobre a coerência entre o discurso progressista e a prática política.
A saída de Nísia Trindade, que comandava o Ministério da Saúde, foi um dos episódios mais emblemáticos dessa desconstrução. Responsável por liderar a pasta em um momento de desafios pós-pandemia e pela retomada de programas estratégicos do SUS, Nísia foi substituída por Alexandre Padilha, aumentando a percepção de que o governo prioriza acomodações políticas em detrimento da manutenção de lideranças femininas.
O mesmo aconteceu com Ana Moser, ex-ministra do Esporte, que foi substituída por André Fufuca (PP-MA). A decisão foi vista como uma concessão ao Centrão, em uma tentativa de ampliar a base de apoio do governo no Congresso.
Outros dois casos são o da ex-ministra do Turismo, Daniela Carneiro, que deixou o cargo após pressões do União Brasil, sendo substituída por Celso Sabino (União Brasil-PA) e da da ex-presidente da Caixa Rita Serrano.
Com as baixas a participação feminina da gestão Lula 3.0 é de nove ministras, um retrocesso em relação ao que o próprio presidente prometeu ao assumir o cargo. Esse cenário fica ainda mais evidente quando comparamos com o segundo governo Dilma Rousseff (2015-2016), que chegou a ter até 15 mulheres em postos ministeriais.
A mudança na composição do governo não passou despercebida. A retirada gradual de mulheres do primeiro escalão é vista como um reflexo da falta de comprometimento real com a representatividade feminina.
A contradição entre o discurso progressista e a prática política do governo Lula 3.0 torna-se ainda mais evidente quando observamos que, sempre que uma mulher deixa o primeiro escalão, sua substituição nunca é feita por outra mulher. Em vez de fortalecer a presença feminina na alta cúpula do governo, Lula tem cedido espaços estratégicos a aliados políticos do Centrão, mostrando que a articulação de poder se sobrepõe ao compromisso com a equidade de gênero.
O que se vê, na prática, é a perpetuação de um modelo onde a participação feminina no governo não é prioridade, mas uma moeda de troca diante das pressões políticas.
Além disso, a substituição de ministras com perfil técnico por figuras políticas reforça a percepção de que o critério de escolha está pautado na conveniência eleitoral e na necessidade de acomodação de partidos aliados.
A promessa de um governo mais diverso e representativo está se desmanchando conforme os interesses políticos falam mais alto do que os compromissos assumidos.
Se a tendência continuar, Lula terá dificuldade em sustentar o discurso de inclusão sem que os fatos o contradigam, comprometendo a confiança de um eleitorado que esperava mudanças reais e não apenas narrativas eleitorais.