No sertão do Norte de Minas, onde o sol castiga a terra e a chuva dá o ar da graça apenas em poucos meses do ano, um pequeno município tem quebrado paradigmas e surpreendido até os mais céticos.
Grão Mogol, com sua paisagem de serras ao pé da Cordilheira do Espinhaço e um clima tipicamente semiárido, está se reinventando — e, acredite, por meio da produção de uvas finas e vinhos premiados.
Por trás dessa revolução rural está um grupo de produtores que apostou no improvável: cultivar uvas de clima temperado em uma das regiões mais secas do estado. O segredo? Tecnologia, manejo de precisão e parcerias com instituições como a Epamig e a Unimontes. A variedade francesa Merlot, por exemplo, já rende ali duas safras por ano e uma média impressionante de quatro quilos por planta.
A aposta, que começou quase como uma brincadeira em 2017 com apenas 46 mudas, virou um case nacional de sucesso. A vinícola Vale do Gongo, comandada pelos irmãos Alexandre e Gésio Damasceno ao lado de Guilherme Saege, já produz 15 mil litros de vinho por ano e ostenta um título de peso: medalha Grande Ouro no Concurso Nacional de Vinhos de Mesa, realizado em Bento Gonçalves (RS), o berço da vitivinicultura brasileira.
Vinho, fruta e… turismo
Mas o impacto vai além da bebida. A produção de uvas finas também abastece o mercado de frutas in natura, com produtividade de até 50 toneladas por hectare/ano, e fomentou outro setor estratégico para o município: o enoturismo de experiência. Visitas guiadas, degustações, eventos e hospedagens em meio aos vinhedos já movimentam a economia local, gerando renda e novas oportunidades para os moradores.

Para o secretário estadual de Agricultura, Thales Fernandes, Grão Mogol se revela como um “novo Eldorado” do agro mineiro. “Além do vinho, o potencial da região também é enorme para o cultivo de café, com altitudes que variam de 800 a 1100 metros. O que vemos aqui é o resultado de uma aliança entre conhecimento técnico, coragem e vocação natural”, destacou.
O sertão que virou vinho
As condições únicas do microclima local, com dias quentes e noites frias, favorecem a maturação lenta e completa das uvas, resultando em vinhos de excelente acidez, cor intensa e grande equilíbrio — características ideais para rótulos de guarda que podem envelhecer por décadas.
A pesquisadora Renata Vieira, coordenadora do Programa Estadual de Pesquisa em Vitivinicultura da Epamig, explica que o clima seco também ajuda no controle de doenças na videira, reduzindo o uso de defensivos e garantindo mais sustentabilidade à produção.
Grão Mogol, com seus vinhedos resilientes e produtores audaciosos, mostra que o impossível é só uma questão de perspectiva. Entre cachos maduros e barris de carvalho, nasce não apenas um novo vinho, mas uma nova identidade para o sertão mineiro — que agora brinda ao futuro com taças cheias de orgulho e sabor.